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O tema da redação do ENEM de 2023
Greici da Rosa Fulcher Docente de História do Ensino Médio Senac Caxias do Sul
27/11/23
Educacional

Estamos no momento do ano mais tenso para os estudantes, momento de aplicação das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que buscam avaliar as habilidades desenvolvidas ao longo da vida escolar. Como ex-prounista defendo a aplicabilidade do ENEM com todas as minhas forças, por mais que as polêmicas estejam aí. Vejo no exame um momento de oportunidade para que os estudantes de baixa renda acessem a universidade. E para que os demais estudantes sejam desafiados em uma avaliação nacional baseada na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que também busca analisar o nível de qualidade do Ensino Médio.

Nas duas últimas edições, a prova se mostrou voltada às questões sociais (povos originários, direitos das mulheres, questões de imigração). Na minha opinião, como professora formada em História e também em Geografia, é incrível. Vivemos em um dos países mais desiguais do mundo, enfrentamos desafios sociais a todo o momento, precisamos explicar a existência de um racismo estrutural, descontruímos estereótipos na maior parte do tempo. O fato dessas desigualdades serem analisadas e contextualizadas na prova faz com que uma parcela da população, que pode ser considerada privilegiada por “viver em uma bolha”, precise encarar a realidade. Nesse sentido, que bom que o ENEM pôde atingir cerca de 4 milhões de participantes.

Mas e por que o tema da redação gerou tantas polêmicas nas redes sociais? A questão da invisibilidade do trabalho da mulher se destaca quando nem os próprios jovens brasileiros identificam o problema. Observar a mãe, a tia ou a avó serem responsáveis pelo cuidado do lar não surpreende e, na verdade, é normalizado. A sobrecarga com o trabalho fora e em casa não é reconhecida pela sociedade, e muitas vezes, romantizada. A mulher é vista como moderna, guerreira, mãe fantástica e esposa perfeita. Basta observarmos as nossas relações familiares.

Pensamos na seguinte situação: é domingo, meio-dia e a família decide se reunir para um churrasco. Os homens se encarregam de preparar a carne, enquanto as mulheres da família ficam, na maioria das vezes, na cozinha preparando todo o restante da refeição e cuidando das crianças. Depois que todos almoçam, os homens se reúnem em algum lugar da casa (que não seja a cozinha) para relaxar e conversar e as mulheres se revezam para recolher a mesa e lavar a louça (novamente na cozinha), espaço que acaba por ser identificado com a figura feminina. Essa é apenas uma dentre tantas situações que poderia descrever aqui.

O problema abordado pelo ENEM não é algo simples de ser resolvido, é uma “ferida profunda”. Gerar proposta de intervenção ao longo da redação não significa indicar uma solução, mas buscar meios que levem a ela. Devemos utilizar o tema para abordar discussões que envolvam toda a sociedade. Os problemas precisam ser discutidos e não ignorados. Só assim vamos conseguir encontrar uma melhor saída para todos, não apenas para uma parcela da população.