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O planejamento de aulas para crianças não alfabetizadas: caminhos para a assertividade
Por Franciele Agnoletto – Pedagoga Senac IjuíPedagoga Senac Ijuí
19/09/22
Educacional

Planejar aulas para crianças não alfabetizadas, em especial na área de Idiomas, requer um olhar diferenciado por parte do educador. Tempos, espaços e rotinas devem ser considerados na hora do planejamento e é imprescindível avaliar as especificidades da faixa etária, levando em conta o tempo de concentração que cada idade possui.  

A infância, por si só, é permeada por um olhar único para com a vida, cheia de imaginação e criatividade. Crianças são generosas e nos convidam a adentrar seu mundo, compartilham suas ideias, dividem suas descobertas.  Assim, observar, compreender e tentar ver o mundo com os olhos das crianças já é um primeiro grande passo para proporcionar aulas com vivências e significados, tornando o tempo delas nas aulas proveitoso, frutífero e feliz.  

Mas como desenvolver atividades interessantes e eficazes a quem não sabe ler? Simples: usando aquilo que eles mesmos carregam consigo! Através dos diálogos das crianças, o educador tem a possibilidade de diagnosticar quais são seus interesses, quais assuntos lhe são atrativos e quais teorias transitórias que estão desenvolvendo. Ainda, é na observação que o professor tem a chance de perceber as lacunas de tempo e vivências ou mesmo detectar momentos de desinteresse no período de aula, embasando assim a construção de um planejamento que atraia as crianças para aprender outra língua.  

É fundamental a observação dos momentos de conflitos pelos quais o grupo passa, dos momentos de silêncio, de desinteresse, de agitação e de ansiedade, pois eles fazem parte do aprender. Sem situações-problema interessantes e instigantes, dúvidas, ansiedades e a consciência do não saber, enfim, sem a vivência do conflito cognitivo, as crianças não se sentirão suficientemente desafiadas para aprender. (PROENÇA, 2018, p. 49) 

A partir desta coleta de informações, um arsenal de possibilidades surgirá, que poderá ser abordada em forma de histórias, cards, músicas, jogos... enfim, por meios que estão disponíveis ou que podem facilmente ser criados pelo professor.  

Maria Alice Proença (2018, p. 47) especifica 3 tipos de planejamento na Educação Infantil, no qual aqui vou me ater ao segundo tipo, que ela chama de Planejamento Posterior (realizado)

"Com base na experiência concretizada, registra-se o que, de fato, aconteceu. Por ser uma construção do grupo, o processo está sujeito a imprevistos, situações emergentes a serem consideradas. É preciso fazer uma reconstrução reflexiva dos interesses-necessidades-faltas dos participantes, refletindo sobre o percurso desenvolvido, seus fazeres e saberes pedagógicos cotidianos.  Ao registrar o que foi vivido pelo grupo, revela-se o fio condutor da proposta e os ajustes realizados ao longo do processo." 

Assim, é muito importante que o educador planeje suas aulas considerando sempre a experiência anterior, como diz a autora, modificando a prática num processo de ação-investigação-ação, que trará vivências mais específicas ao grupo de crianças. Este é um processo contínuo, revisitado pelo professor ao final de cada aula e que deve ser registrado, pois com o passar do tempo são os registros que nos mostram a evolução da turma e o caminho percorrido por ela.  

Um grande diferencial nos dias de hoje é estar honestamente envolvido com a criança e seus interesses. A cultura educativa ainda, em pleno século 21, desconsidera os conhecimentos e a visão de mundo das crianças, minando assim sua criatividade ao oferecer estereótipos e atividades mecânicas que em nada contribuem para seu desenvolvimento. Há também, uma preocupação em alfabetizar precocemente, tornando esse processo vazio e apurado, tirando das crianças aquilo que mais precisam na infância, que é brincar. Chegamos, assim, a um ponto determinante: é preciso que o educador compreenda a importância que o brincar possui para a criança, pois é o que tem significado para elas e é assim que compreendem, significam e simbolizam sua construção de mundo, de identidade e também de conhecimento.  

“Observar espaço e tempo do brincar espontâneo pode ser um universo infinito. O exercício traz a cada nova observação mais e mais aspectos que nos mostram o quanto ver é muito mais do que os olhos nos dão. O pesquisador nesse processo de empiria delicada deixa suas hipóteses e verdades pedagógicas para se encantar com cada detalhe da criança que brinca.” (ECKSCHMIDT, 2019, p. 500). 

Conforme a autora, torna-se evidente que esse pesquisador, aqui substituído pelo docente, necessita doar-se neste período com as crianças para que possa, assim, ver além do óbvio, para que veja o extraordinário.   

Ao concluir as ideias deste breve artigo, talvez fique a impressão de que o planejamento de aulas para crianças pequenas seja mais desafiador do que realmente é, mas na prática, se nos dedicarmos sinceramente e nos comprometermos com o tempo da criança, perceberemos que este é um dos simples planejamentos da ação educativa, pois crianças nos entregam de bandeja aquilo que desejam aprender.

 

Referências bibliográficas

PROENÇA, Maria Alice. Prática docente: a abordagem de Reggio Emilia e o trabalho com projetos, portfólios e redes formativas. 1ª ed – São Paulo: Panda Educação, 2018. 160 p.

SAURA, S. C.; ECKSCHMIDT, S. Observar o brincar espontâneo de um menino, ou o que aprendi com os Guarani Mbya. In: Willms, E. E.; Beccari, M; Almeida, R. (org). Diálogos entre arte, cultura & educação. São Paulo: FEUSP, 2019, p. 500-524. Disponível em: http://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/362. Acesso em 31/03/2020.