Esses últimos dias, tenho me perguntado o que significa ser professor? Em um país que pouco investe na educação, pesquisa e ciência. Ser educador no Brasil é estar fora da curva, afinal com tantos retrocessos na educação é necessário permitir que exista o amor e a esperança de germinar novos lugares.

Quando tinha entre os meus 9 e 10 anos de idade, meu pai se formou em Matemática e começou a dar aulas para trazer sustento para mim e minha mãe. Ele trabalhava os três turnos para poder colocar a comida na mesa e, claro, tinha pouco contato com ele durante a semana pela extensa carga horária de trabalho. Apesar de toda carga exaustiva, em meio a greves e corte de salários, o afeto sempre esteve presente e ele, em meio à luta diária de ser educador no país, sempre se dedicou e honrou a difícil tarefa de ser professor.

Boa parte da minha vida acadêmica foi em Rosário, na Argentina, quando estudava medicina, profissão que pensei ser o meu destino. Mas a vida tem suas surpresas, não é mesmo? Quem diria que, na própria faculdade de medicina, encontraria a importância e o sentido em dar aulas? Pois, recebi a oportunidade de ensinar na monitoria para outros estudantes de medicina. Confesso que, em um primeiro momento, senti medo de ter essa responsabilidade, mas fui me adaptando e gostando. Mal sabia que no futuro educar se tornaria a minha profissão.

Hoje, faz sete anos que trabalho como professor de idiomas nas línguas de Inglês e Espanhol, além de atuar como tradutor, musicista, compositor e cantor. Ser professor para mim é ter a capacidade de sair de cena, sem sair do espetáculo; é apontar os caminhos, mas deixar que os estudantes trilhem a sua própria jornada. É estar como um sujeito ativo, dentro e fora de sala de aula, auxiliando os estudantes a despertarem o senso crítico, a criatividade e o interesse. É ser resiliente e mutante, pois é necessário sair dos tradicionalismos educacionais para ensinar, é necessário experimentar-se como educador em todos os âmbitos formais ou não formais de educação.

O professor é, naturalmente, um artista, mas ser um artista não significa que ele ou ela consiga formar o perfil, possa moldar os alunos. O que um educador faz no ensino é tornar possível que os estudantes se tornem eles mesmos. (Paulo Freire, 2003)