
A indumentária gaúcha vai além do vestir, pois traduz história, identidade e pertencimento. Seja na bombacha, no lenço ou no vestido de prenda, cada detalhe carrega símbolos que mantêm vivas as tradições do Rio Grande do Sul. Mais do que um traje, a pilcha representa orgulho, respeito e a valorização de uma cultura que atravessa gerações.
Para a docente de moda do Senac Novo Hamburgo, Natálya Duhart, esse é um dos símbolos mais fortes da identidade do Estado e exemplifica como a moda pode ser um instrumento de preservação cultural. “Peças como a bombacha, por exemplo, simbolizam liberdade, resistência e a vida campeira, remetendo aos tropeiros e ao trabalho nas estâncias. Já o vestido de prenda e o lenço trazem à tona valores de comunidade, respeito e tradição, transmitindo a força da herança cultural do povo gaúcho” destaca.
Ela explica que a moda, como um todo, é uma linguagem sociocultural que conecta passado, presente e futuro, funcionando como guardiã de memórias e valores. “Para muitos, vestir pilcha significa resgatar laços familiares, valorizar raízes e manter viva a tradição. Ao mesmo tempo em que reforça a memória histórica, a indumentária gaúcha também projeta para fora do estado um símbolo de orgulho regional, mantendo acesa a identidade cultural do Rio Grande do Sul” aponta.
Natálya comenta ainda que, quando integrada à economia criativa, a moda também transforma o patrimônio em oportunidade. “Oficinas, coleções autorais e parcerias com artesãos mantêm técnicas vivas ao mesmo tempo que geram inovação e renda. No entanto, isso exige responsabilidade de valorizar saberes locais, creditar e documentar práticas, evitando apropriação cultural e garantindo que a comunidade seja protagonista de sua memória”, afirma.
Quanto à reinterpretação da moda tradicionalista, a especialista diz que há espaço para inovação, desde que a identificação, o significado e a conexão emocional com a cultura gaúcha sejam respeitados. “Esse mercado está cada vez mais ativo. A indumentária vem sendo adaptada para o dia a dia moderno de forma criativa, confortável e fiel aos símbolos que a definem”, revela.
Entre os exemplos, ela cita a alpargata, calçado que vem sendo reinterpretado por diversas marcas. “Mantendo o vínculo cultural, algumas marcas modernizaram esse item e o tornaram um produto fashion, jovem, com design contemporâneo, cores variadas e apelo urbano, sem deixar de lado sua raiz cultural”, expõe.
A docente descreve que nos cursos de moda, essa relação entre design, tradição e inovação é constante. “Incentivamos os alunos a enxergar a cultura, de modo geral, como ponto de partida para criação. Isso significa estudar a história, compreender símbolos, técnicas e estéticas regionais/nacionais e mundiais, e a partir daí propor releituras criativas e inovadoras”, esclarece.
Ela conclui que a moda se torna um campo de diálogo entre passado e futuro quando respeita a tradição, mas abre espaço para experimentação, sustentabilidade e novas linguagens de design.